Futebol profissional não é para criança?
Será que os nossos jovens estão sendo preparados para suportar tamanha pressão?
Futebol profissional não é para criança. Ouvi essa frase (algumas vezes) por alguns comentaristas esportivos, depois de um jogo válido pelo Campeonato Paulista de futebol 2023 entre, Palmeiras e Red Bull Bragantino.
Nesse jogo, o time do Palmeiras (até então líder do campeonato) , bateu o adversário em questão pelo placar de 2x0 se mantendo líder absoluto do campeonato.
À princípio, essa mesma frase, não me chamou tanta atenção (apesar de ter ficado registrado em meu subconsciente), mas bastou que alguns minutos se passassem para que a mesma frase martelasse em minha cabeça, quase que me implorando por uma reflexão mais cautelosa.
Foi então que decidi fazer uma análise mais profunda da marcante frase. Na tranquilidade da minha confortável poltrona, tomando meu bom, velho e saboroso scotch, com toda paz que um ser humano necessita para executar a espinhosa missão.
Primeiro é necessário que façamos uma contextualização no caso do jogador em questão, para que só depois, possamos assim traçar alguns exemplos e comparações (mesmo que em diferentes épocas e situações), e dessa forma, tentar chegar a uma conclusão razoável e aceitável para tal afirmação.
Endrick Felipe Moreira de Souza, nasceu em 21/07/2006, portanto o jogador na flor dos seus 16 anos de idade, que segundo o nosso ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) , apesar de fazer parte do mesmo estatuto, já não é considerado mais como uma criança e sim um adolescente.
Tirando a discussão de onde o nosso "menino Endrick" (o menino lembra alguém?) se encaixa, criança ou adolescente, muitos defendem que "garotos" não possuem a capacidade cognitiva, psicológica e estrutural para suportar tamanha pressão que um jogador profissional de alto nível e rendimento necessitam, mas será verdade?
No jogo mencionado acima, a jovem e valiosa "promessa" da Sociedade Esportiva Palmeiras, ao ser substituído, sai de campo visivelmente abatido e sentado no banco de reservas, após cobrir o rosto com um colete, vai as lágrimas, desse episódio saiu a frase "Futebol Profissional não é para criança."
Tudo indica e transparece que o choro é um misto de frustação pela queda de rendimento e falta de gols nos últimos jogos, uma pressão e cobrança (principalmente do próprio jogador) em relação à toda expectativa criada em torno do seu nome como a grande promessa brasileira dos últimos anos.
O jogador que já não pertence mais ao Palmeiras pois foi vendido ao Real Madrid pela bagatela de 72 milhões de euros (R$407 milhões de reais), que só poderá defender a equipe espanhola em 2024, ano que completa 18 anos, até o ano passado disputava sua primeira e única Copa São Paulo de Futebol Jr.
Com apenas 15 anos de idade, a joia Alviverde se tornou o jogador mais jovem a marcar pelo Palmeiras na Copinha, ficou marcado por excelentes atuações e é claro, muitos e belíssimos gols.
Tudo isso somado a necessidade cultural do futebol brasileiro em produzir craques "acima da média" de tempos em tempos, fez com que o jogador logo despertasse atenção não apenas da imprensa e torcida mas principal do treinador da equipe profissional Abel Ferreira.
Filme repetido?
A pergunta é, será que esses garotos estão preparados para tamanha pressão? O filme de tempos em tempos insisti em se repetir.
O garoto se destaca na base, começa a ter algumas oportunidades esporádicas para treinar entre os profissionais, se destaca entre eles nos treinos até conseguir a tão sonhada oportunidade para estrear.
Com a oportunidade dada, enfim faz a sua estreia. Sabendo (ou não) da importância daquela chance dada por seu treinador mas com a naturalidade de um veterano multicampeão, ele entra e logo é perceptível até para os mais leigos que sim, ele é diferente, aliás não só isso, é muito acima da média.
A partir daí, sua entrada em jogos passa a ser cada vez mais constante e com elas as primeiras cobranças. A primeira delas é a da torcida, logo em seguida a imprensa esportiva.
Como se não bastasse, a pressão agora não é apenas fora (torcida, imprensa) mas principalmente dentro de campo como o treinador, outros jogadores (principalmente os que estão perdendo espaço pra ele) e por fim, a do próprio jogador.
A responsabilidade deve ser dividida
Provavelmente o treinador que não souber trabalhar a "lapidação" de um novo atleta com grande potencial como o exemplo acima, carregará consigo uma boa parcela de culpa por não ter feito aquele "foguete decolar".
Contudo é importante dizer que o treinador não pode ser o único responsável pelo insucesso de um jovem craque caso as coisas não saiam como planejado.
Acredito que essa matemática é algo bem mais complexo do que imaginamos, o treinador tem grande importância? Sim, isso é indiscutível, mas não pode ser ele o único a ser responsabilizado.
Na minha opinião, essa preparação deve começar cedo, de preferência e se possível em casa, com os pais ou responsáveis pela criança ou adolescente. Dessa forma a pressão poderá ser minimizada e aquele "futuro craque", poderá pelo menos imaginar o que o aguarda quando sua hora chegar.
Exemplos de craques (ou projeto de craques) que se perderam pela falta dessa preparação e cuidado é o que não faltam. Um dos casos emblemáticos, é de um atacante brasileiro pouco lembrado nos dias de hoje mas que muitos acreditavam que seria o futuro Neymar.
Quem se lembra de Neilton Mestzk, mais conhecido apenas por Neilton. O jogador que chegou nas categorias de base do Santos com apenas quatorze anos, após passagem rápida pelo Esporte Clube Água Santa.
Teve grande destaque nas categorias de base do Santos em 2012 onde foi campeão do Campeonato Paulista Sub-20. Em 2013 também se destacou, principalmente pela mesma Copinha (Copa São Paulo de Futebol Júnior) em que Endrick brilhou.
Naquela Copa São Paulo de 2013, lembro que sua participação foi ainda mais decisiva que a do próprio Endrick pelo Palmeiras. Pelas semifinais jogando contra exatamente o Palmeiras o Santos venceu o jogo por 3-2, e Neilton marcou os três gols do jogo.
Para fechar com chave de ouro sua participação na mesma Copa São Paulo de 2013, marcou um dos gols na final da competição contra o Goiás, sagrando-se assim campeão de um título que o Santos não conquistava desde de 1984.
Logo em seguida teve sua ascensão ao time profissional do Santos sendo relacionado pela primeira vez em março do mesmo ano de 2013. Daí pra cá a história todos já conhecem ou melhor, a grande maioria nem deve conhecer.
Com a velocidade de um meteoro o jogador desapareceu da mídia com a mesma velocidade que surgiu, deixando apenas lembranças do início promissor vivido no Santos e de alguns poucos lampejos daquele jogador atuando por tantas outras equipes Brasil afora.
Esse é mais um exemplo claro de um jogador que surgiu como grande promessa mas que infelizmente não passou disso. Tantos outros poderiam ser lembrados mas quero citar agora dois nomes bem mais conhecidos dos amantes (ou não) do futebol.
Muito se fala em promessas que não vingaram e ficaram apenas no campo da mediocridade durante a carreira.
Seja por não terem tido a preparação correta logo cedo, para que conseguissem enfrentar todos os desafios durante a carreira, seja por se perderem durante o caminho devido as pressões e falta de pessoas que pudessem confiar e realmente auxiliá-los em sua jornada.
A importância de uma carreira bem gerenciada em todos os sentidos
Como disse , citarei agora dois nomes bem mais conhecidos de todos como exemplo. E o primeiro deles é Adriano Leite Ribeiro, mais conhecido como Adriano Imperador . Adriano foi um dos melhores atacantes do mundo em meados da década de 2000.
Chegou ao Flamengo com apenas nove anos de idade, onde foi destaque no futsal e logo se transferiu para o campo. Lembra a história de muitos outros craques não é mesmo? E o enredo parece sempre ser o mesmo, promovido logo cedo aos profissionais, estreia, seguido de gols e belas atuações.
Se destacando e chamando a atenção de grandes clubes fora do Brasil se transferiu para a Internazionale da Itália onde foi o seu auge.
Teve cinco temporadas magníficas na Itália com as camisas do parma e da Internazionale , ganhando o apelido de L'Imperatore ( o imperador ) , antes de um declínio profissional devido a morte do seu pai e considerado pelo próprio Adriano, seu melhor amigo e mentor.
Agora, vocês já se perguntaram o que teria sido da carreira de Adriano Imperador caso seu pai não tivesse morrido tão precocemente (44 anos) e assim, desfrutasse da oportunidade de acompanhar a carreira de mais perto e por mais tempo de seu filho?
É difícil até de fazer algum prognóstico não é mesmo? Mais alguns anos de reinado na Itália, Inglaterra, Espanha? Marcas e recordes históricos como artilheiro? Bola ou Bolas de Ouro? Ou quem sabe até uma Copa do Mundo? Um retorno triunfal ao Brasil jogando por mais algum tempo ainda em alto nível?
Uma despedida dos gramados em alto estilo , com tudo que grandes craques tem direito no Flamengo (clube de coração dele e de seu pai) ?
Quem pode dizer o que seria do futuro de um jogador como esse, se tivesse alguém em que ele realmente confiasse para dividir seus medos, dúvidas e angústias durante toda ou grande parte de sua carreira?
Uma estrela que poderia ter brilhado mais
Vamos ao segundo exemplo mas não menos importante que o primeiro e ainda muito atual. Agora sim , trata-se do nosso querido ( não mais tão querido ) e eterno "menino Ney". Neymar da Silva Santos Júnior, mais conhecido apenas como Neymar ou Neymar Júnior como preferir.
Nascido em Mogi das Cruzes em 5 de fevereiro de 1992, Neymar foi revelado pelo Santos em 2009, ganhou diversos títulos com o clube e também o prêmio de melhor jogador sul-americano em 2011 e 2012, um prêmio Puskás, de gol mais bonito do ano de 2011 e tantas outras premiações.
Em 2013, foi vendido ao Clube Catalão Barcelona, após ser protagonista da Copa das Confederações de 2013 pela Seleção Brasileira. Considerada até hoje a venda mais cara da história do futebol brasileiro. Continuou e ainda continua colecionando títulos por onde passa.
Nesse momento muitos devem estar perguntando, como um jogador milionário e famoso, multicampeão como ele , que ganhou quase tudo o que disputou por onde passou, pode ser incluído nesse artigo? A resposta vem em forma de uma pergunta semelhante a feita no caso do seu compatriota acima.
Já imaginaram como poderia ter sido a carreira do Neymar se não fosse a forma "pouco profissional" pela qual ela foi conduzida? Neymar da Silva Santos, ou mais conhecido apenas como "pai do Neymar' sempre foi uma figura um tanto controversa no meio futebolístico.
Blindou (e ainda continua blindando) a carreira dele com "punhos de ferro", tendo uma influência enorme em todos os aspectos de sua vida.
Muitos acreditam que o pai de Neymar Júnior tenha até contribuído para o sucesso do filho no início de sua carreira , mas com o passar do tempo acabou perdendo a mão e se transformando justamente em uma péssima influência para o jogador.
Atendendo e concordando com seus desejos e atitudes cada vez mais bizarros, mimando e "passando a mão em sua cabeça" na hora em que deveria corrigi-lo. São vários os exemplos que comprovam tais condutas.
Como um pai por exemplo, pode concordar achando normal que seu filho traga vários "parças"(como são chamados os amigos mais próximos de Neymar) do Brasil e pague eles uma espécie de mesada para que estes mesmos "amigos", fiquem próximos dele para que o mesmo se sinta "melhor adaptado".
E as famosas e intermináveis festas, regadas a bebedeira e prostitutas promovida pelo craque, e que provavelmente devem ter o conhecimento e consentimento do pai?
Aliás, festas estas que já são motivo de enorme desconforto por parte do Paris Saint Germain, clube em que o jogador atua há 5 anos e também dos vizinhos do craque em luxuosos condomínios onde ele vive.
Infelizmente, Neymar Júnior no alto de seus 31 anos, já coleciona inúmeras polêmicas que seria necessário um artigo inteiro dedicado somente a elas para enumerá-las. Todas elas assistidas pacientemente por seu pai de forma pacífica sem qualquer tipo esforço para que algo fosse feito.
Pai, amigo, empresário ou agente?
Neymar da Silva Santos ou "Neymar pai" como preferirem, foi de um atacante de times pequenos sem grande expressão, a agente superpoderoso em 20 anos. Muitos creditam a ele a culpa do comportamento quase sempre polêmico dentro e fora dos gramados de Neymar Júnior .
A verdade é que "Neymar pai", é quem cuida e sempre cuidou da carreira do filho famoso, mesmo que sua figura não tenha uma definição clara do que realmente é (as vezes pai, amigo, empresário ou agente) . E mesmo assim, ele também já esteve envolvido em algumas polêmicas.
A mais famosa e recente polêmica, diz respeito ainda as negociações com o Barcelona no qual o jogador é processado por corrupção. Neymar não fez nenhuma declaração inicialmente mas logo após afirmou em julgamento, que assinava os documentos que seu pai pedia.
O próprio jogador chegou a dizer; " Meu pai sempre cuidou das negociações de contrato, eu assino o que ele pede". Essa declaração evidencia o nível da relação entre pai e filho, ou seja confiança e obediência total.
Nenhum problema em relação a isso, se a conduta em relação ao cuidado e condução da carreira do filho, fosse melhor administrada e preservada por ele.
Então Neymar não é um exemplo de jogador de futebol bem sucedido ? Não, ao contrário , Neymar foi e continua sendo um dos principais jogadores da atualidade , mas é notório o quanto alguém mais bem preparado e responsável, fez e ainda faz falta na vida dele.
O fato é, se a carreira de Neymar tivesse sido conduzida com um suporte maior e suas decisões fossem sempre tomadas colocando o lado PROFISSIONAL em primeiro lugar, posso afirmar que hoje ele estaria em um patamar muito acima do atual.
É difícil acreditar que um jogador como ele ainda não tenha conseguido ser eleito por pelo menos UMA vez , o melhor jogador do mundo. E a verdade é que provavelmente não será.
Chega ser quase que inadmissível um jogador com tamanha qualidade e com todos os adjetivos que leva alguém a ser considerado o melhor, não conseguir conquistar essa premiação sequer uma única vez. Tudo por falta de uma administração na carreira mais profissional e a falta de comprometimento.
Neymar chegou a sua terceira Copa do Mundo sem ao menos disputar uma semifinal. Detalhe, estamos falando de Seleção Brasileira, onde historicamente (na teoria) é mais fácil chegar a grandes e marcantes conquistas, devido a quantidade de jogadores com qualidade acima da média.
Mudança de atitude e uma luz no fim do túnel
Felizmente, a cada dia que passa os clubes e principalmente os próprios jogadores vem tomando consciência da importância do trabalho que envolve a preparação de um futuro atleta profissional. Não adianta, é diferente.
Basta acompanhar como é tratada essa questão em relação a tantas outras modalidades esportivas mundo afora. A mentalidade desses atletas é trabalhada muito cedo, por isso alcançam uma maturidade esportiva e competitiva muito mais cedo que atletas de futebol.
O quanto antes essa preparação for alicerçada, desde a iniciação nas categorias de base, até um trabalho contínuo quando alcançarem o profissional, menos casos como o do Endrick serão comuns.
A Europa sempre a frente do resto do mundo, começou esse trabalho já há alguns anos. Hoje é perceptível o nível de amadurecimento profissional e precoce dos jogadores que se destacam nas bases de seus clubes, consequentemente a transição torna-se bem mais tranquila e segura para o profissional.
Jogadores com um senso de responsabilidade profissional acima dos demais, que os fazem estarem sempre um nível acima de nós, sul-americanos, quando se trata da questão psicológica.
Quando o assunto é preparação psicológica, sobretudo em momentos adversos em que é exigido frieza e discernimento, eles se destacam e quase sempre nos superam.
Definitivamente, Futebol Profissional não é para criança, Esperamos que nós brasileiros, possamos ter o entendimento e a consciência desse fato cada vez mais evidente o quanto antes.
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